27 fevereiro, 2015

Ex-alunos contam experiência de ensino domiciliar, que cresce no país


Ex-alunos contam experiência de ensino domiciliar, que cresce no país

Mateus Luiz de Souza
Desde 2012, o MEC permite que o desempenho no Enem seja utilizado como certificação de conclusão do ensino médio. O foco era beneficiar alunos de supletivo, mas a medida na prática facilitou também a vida dos jovens que foram educados em casa –o homeschooling.
Segundo a Aned (Associação Nacional de Educação Domiciliar), desde então o número de adeptos no Brasil dobrou e atingiu 2.000 famílias.
A Folha procurou ex-alunos do homeschooling para conhecer suas impressões sobre o sistema em expansão.
Lorena Dias, 17, saiu da escola em 2010, no 8º ano. Ela diz ter pedido para sair, porque sofria bullying e os pais estavam preocupados com as greves e a presença de drogas e no colégio público em que estudava, em Contagem (MG).
Guilherme, 13, e Lorena, 17, que são educados em casa pelos seus pais, Lilian e Ricardo Dias
"Não tinha muita ideia de como faríamos. Fiquei um pouco perdida no início", diz.
Ela admite que o padrão rígido de estudos estabelecido pelos pais no começo, determinando horários e os conteúdos, foi flexibilizado com o tempo. Questionada se isso não é ruim, ela responde que não. "Me senti livre para usar meu tempo da forma mais confortável. Na escola, você segue o ritmo do professor."
Ela diz que sentia falta da convivência diária com crianças. Para tentar compensar, os pais faziam encontros quinzenais de famílias adeptas do homeschooling. Além disso, ela manteve contato com algumas amigas da escola.
Lorena está tentando se matricular em jornalismo em uma universidade de Brasília, onde mora hoje. A falta de um certificado de ensino médio tem sido um problema –para utilizar o Enem, o aluno precisa ter 18 anos, um a mais do que ela. Lorena tenta agora uma liminar judicial.
Vale lembrar que, apesar do Enem, o homeschooling não é regulamentado no Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA. Assim, as famílias precisam estar cientes de que não há consenso sobre sua legalidade.
Uma interpretação judicial possível é que as famílias estão violando o artigo 246 do Código Penal (que considera crime "deixar de prover à instrução primária" aos filhos).
A Aned alega que quem dá homeschooling não está deixando de prover instrução primária. A maior parte das famílias nunca teve problemas legais, mas ficou famoso o caso do casal Cléber e Bernadeth Nunes, de Timóteo (MG), condenado a pagar multa de R$ 9 mil em 2010 por educar os filhos em casa. O conselho tutelar levou o caso ao Ministério Público, que abriu a ação.
Os garotos Jônatas e Davi estão hoje com 20 e 21 anos. Jônatas critica o ensino formal –diz que as provas que fez eram "pura decoreba". Em casa, não tinham horário para estudar: eram livres para decidir quando pegar nos livros. De família religiosa, liam a Bíblia com frequência.
Os garotos se dedicaram também à informática. Adolescentes, criavam sites para clientes da região. Em 2011, ganharam R$ 30 mil de prêmio na Campus Party, por um projeto de melhora para o AcessaSP (rede de acesso gratuito à internet de São Paulo).
Davi é hoje responsável pela informatização da nefrologia do hospital municipal de Betim (MG). "Vou querer educar meus filhos com ensino domiciliar", diz.
Não seria o primeiro caso. A família Brennan, aliás, já está na terceira geração de homeschooling.
Os pais de Timothy Brennan Jr., 41, estudaram em casa porque, quando a família se mudou dos EUA para o Pará, a escola mais próxima ficava muito longe. Depois a família se mudou para o Rio Grande do Sul, mas ele foi educado da mesma forma.
Hoje em Chapecó (SC), onde é dono de uma escola de inglês, ele até tentou colocar os filhos em uma escola, mas ficou decepcionado com os resultados. Resolveu ensinar em casa Marky, 14, e Ellen, 12.
Um desafio, diz, é que ele morava numa fazenda, com liberdade para brincar e muitas crianças ao redor. Já Marky e Ellen estão em uma cidade, onde o contato com jovens é menor, assim como os espaços para lazer.
Outra limitação é que o sistema exige muito dos pais. Ricardo Dias, 44, pai de Lorena, diz que vários pais o procuram para saber como é o ensino em casa. "O pai fica o dia inteiro fora, a mãe também. Eu falo: não dá, não faz."
"Por isso, a família tem de ter um nível financeiro bom", afirma Luciane Barbosa, doutora em educação pela USP e autora de uma tese sobre o assunto. "É muito difícil dar certo em outras condições."
É a opinião também do pedagogo Fabio Schebella. "Ao menos um dos pais vai ter que ficar em tempo quase integral com os filhos, e muitas vezes vai ter de estudar antes deles.
Divulgação: www.juliosevero.com
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07 fevereiro, 2015

Alemanha entra em choque com o papa sobre disciplina de crianças


Alemanha entra em choque com o papa sobre disciplina de crianças

Julio Severo (com a Associated Press)
A Alemanha na sexta-feira (6) rejeitou como “inaceitáveis” os comentários do papa de que é correto bater nos filhos para discipliná-los, enquanto for mantida a dignidade deles.
Francisco fez os comentários nesta semana durante sua audiência geral semanal, que foi dedicada ao papel dos pais na família.
Francisco resumiu as características de um bom pai: um homem que perdoa, mas tem condições de “corrigir com firmeza” enquanto não desanima a criança.
“Certa vez, ouvi um pai numa reunião de casais dizer ‘Às vezes tenho de dar umas palmadas em meus filhos, mas nunca na face a fim de não humilhá-los,’” disse Francisco.
“Que bonito!” comentou Francisco. “Ele sabe o sentido de dignidade! Ele tem de puni-los, mas faz isso com justiça e vai em frente.”
Verena Herb, porta-voz do Ministério das Famílias na Alemanha, disse aos jornalistas na sexta que “não dá para existir palmada com dignidade,” e comparando disciplina de crianças com violência, ela acrescentou, “toda forma de violência contra crianças é completamente inaceitável.”
Completamente inaceitável é o que o governo alemão faz.
Os pais alemães que dão educação escolar em casa ou disciplinam fisicamente os filhos podem perder a guarda deles. Em contraste com sua dureza com os pais, a Alemanha é extraordinariamente complacente com a má conduta, nas crianças e nos adultos. Enquanto a Alemanha estava condenando o papa por mostrar apoio à disciplina de crianças, o Comitê Judaico Americano estava criticando um tribunal alemão por concluir que dois muçulmanos que cometeram um ataque de bomba incendiária numa sinagoga em julho do ano passado não eram antissemitas.
Complacência para com a conduta criminal. Crueldade para pais que cumprem seus deveres de família. Esse é o jeito da ONU na Alemanha.
O fato é que uma insanidade leva à outra. Na Alemanha, castigo físico de crianças é crime. Ao que tudo indica, cometer ataque a bomba numa sinagoga não é crime e nem mesmo antissemita na Alemanha. Os muçulmanos terroristas que cometeram o ataque de bomba incendiária na sinagoga foram sentenciados a realizar 200 horas de serviço comunitário.
Complacência para muçulmanos terroristas, e nenhuma complacência para o papa e para os pais.
Não só a Alemanha tem sido dura com o Vaticano sobre disciplina de crianças, mas a ONU também.
No ano passado, o comitê de direitos humanos da ONU “recomendou” que a Santa Sé introduzisse uma emenda em suas próprias leis para proibir especificamente o castigo físico de crianças, inclusive dentro da família.
Em sua resposta escrita, o Vaticano argumentou que de forma alguma promove castigo físico, que o termo “castigo” nem mesmo é usado no ensino católico e que de acordo com o ensino católico, os pais “têm de ter condições de corrigir a ação imprópria de seus filhos impondo certas consequências razoáveis para tal conduta, levando em consideração a capacidade da criança compreender as consequências como corretivas.”
Todas as nações que são signatárias da Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças (CDC) são obrigadas a revogar suas leis que permitem que os pais disciplinem fisicamente os filhos. Pelo fato de que o Vaticano é um dos signatários, não se sabe se o papa conseguirá continuar apoiando os pais e seu direito de disciplinar seus filhos.
Uns 39 países signatários da CDC proíbem o castigo físico em todos os ambientes, inclusive pelos pais no lar. Essas nações abrangem desde a Suécia e Alemanha até o Brasil, que proibiu a disciplina física depois de um acordo envolvendo o governo de Dilma Rousseff, Xuxa e a Frente Parlamentar Evangélica no ano passado. Até a Argentina socialista, a pátria do papa, proíbe todo castigo físico de crianças, inclusive no lar.
Nos Estados Unidos, que é a única grande nação cristã que, por pressão de grupos evangélicos pró-família, não ratificou a CDC, os pais podem legalmente disciplinar fisicamente os filhos enquanto a força usada for razoável.
Com informações da Associated Press.
Versão em inglês deste artigo: Germany Clashes with Pope over Child Discipline
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