29 fevereiro, 2012

Província do Canadá quer proibir famílias que educam filhos em casa de ensinar que homossexualismo é pecado

Província do Canadá quer proibir famílias que educam filhos em casa de ensinar que homossexualismo é pecado

EDMONTON, Alberta, 23 de fevereiro de 2012 (LifeSiteNews.com) — Sob o novo projeto de lei da educação (Education Act) da província de Alberta, no Canadá, pais que educam seus filhos em casa e escolas religiosas não poderão mais ensinar que práticas homossexuais são pecado como parte do seu programa acadêmico, afirma o porta-voz do ministro da educação Thomas Lukaszuk.
“Qualquer que seja a natureza da educação (em casa ou em escolas privadas ou católicas), não iremos tolerar desrespeito às diferenças”, disse a assessora de comunicação de Lukaszuk, Donna McColl, para LifeSiteNews em 22 de fevereiro.
“É permitido defender a ideologia da família na vida familiar, mas o que não se pode é fazer isso como parte do estudo e da instrução escolar”, afirma.
Em reação aos comentários, Paul Faris da Associação de Defesa Legal da Educação Escolar em Casa (cuja sigla em inglês é HSLDA) afirma que o ministro da educação está “claramente sinalizando que eles planejam violar as conversas privadas que as famílias têm em suas próprias casas”.
“Um governo que busca esse tipo de controle sobre nossas vidas privadas deveria ser temido e combatido”, acrescentou.
A HSLDA e outros grupos de educação domiciliar alertaram nesta semana que a nova lei de educação de Alberta, que foi retomada pelo governo do Partido Progressista Conservador de Alison Redford (premier de Alberta) em 14 de fevereiro, para substituir a lei escolar atual (School Act), ameaça forçar o ensino da “diversidade” em todas as escolas, incluindo as domiciliares.
A seção 16 da nova legislação reafirma a obrigatoriedade da atual lei escolar de que as escolas “reflitam a natureza diversificada” de Alberta no seu currículo, mas acrescenta que elas devem também “honrar e respeitar” a controversa lei de direitos humanos de Alberta, que foi usada para visar cristãos com crenças tradicionais sobre o homossexualismo. “Escola” é definida para incluir os pais que ensinam seus filhos em casa e escolas privadas, além dos conselhos escolares financiados com dinheiro público.
McColl enfatiza que os pais que educam seus filhos em casa já estavam inclusos na definição de “escola” da legislação atual, datando de 1988 ou antes. E a seção 16, afirma, “é especificamente com relação a programas, cursos e materiais didáticos”.
De acordo com McColl, as famílias cristãs que educam em casa podem continuar a transmitir ensinamentos bíblicos sobre o homossexualismo em suas casas, “desde que não seja parte do seu programa acadêmico de estudos e material didático”.
“O que eles quiserem fazer sobre sua ideologia fora desse âmbito, é assunto de família. Mas a natureza fundamental da nossa sociedade é respeitar a diversidade”, conclui McColl.
Ao ser pressionada com relação à distinção exata da educação escolar dos pais e a vida familiar, McColl disse que a questão envolvia ”nuances reais”, e que ela teria que tratar das questões específicas em outra ocasião.
Mas em uma segunda entrevista no dia 22, McColl disse que o governo “não irá especular” quanto a exemplos particulares, e explicou que ela ainda não obteve uma “resposta direta” quanto ao que exatamente constitui “desrespeito”. No entanto, ela afirmou que as famílias não poderão “incitar o ódio, por assim dizer”.
Na primeira entrevista, ela justificou a posição do governo citando a decisão do último dia 17 da Suprema Corte, que decidiu manter a recusa do governo da província de Quebec de dispensar as famílias o seu controverso programa cultural de ética e religião. O programa, que visa apresentar um espectro das religiões do mundo e escolhas de estilo de vida de um ponto de vista “neutro”, é obrigatório para todos os estudantes, inclusive para os que estudam em casa.
“Na última sexta-feira, a Suprema Corte do Canadá publicou uma decisão unânime sobre o caso S.L. v. Comission scolare des Chênes 2012. Trata-se da mesma coisa, a seção 16 vale para todos, incluindo as famílias educadas em casa”, afirmou McColl.
Os observadores pró-família alertaram que a decisão corre o risco de estimular outros governos provincianos nos seus esforços de impor programas de “diversidade”. Nos últimos dois anos houve grandes batalhas em Quebec, Ontario, Colúmbia Britânica, e agora Alberta a respeito da crescente normalização do homossexualismo nas escolas.
A decisão específica da Suprema Corte não cita diretamente a educação escolar em casa; no entanto, abre caminho para futuras batalhas judiciais. O tribunal defendeu que as famílias de Quebec que buscam dispensa simplesmente não cumpriram o ônus da prova necessário para mostrar que a participação dos seus filhos no curso iria impedir a capacidade dos pais de criar seus filhos na sua fé católica.
Patty Marler, intermediária do governo para a Associação de Educação Domiciliar de Alberta, disse estar surpresa com a franqueza do ministério, e questionou como eles irão definir o limite entre os períodos de ensino escolar e de convivência familiar.
“Nós educamos nossos filhos o tempo todo, e é assim que vivemos. É um estilo de vida”, afirma. “Fazer uma distinção entre as horas em que estamos ensinando e quando estamos vivendo é algo bastante difícil”.
“Some a isso o fato de que eu realmente utilizo a Bíblia como parte do meu currículo, e eu estarei patentemente ensinando coisas que vão contra [a lei de direitos humanos]”, conclui.
Marler aponta que a questão tem implicações diretas na forma como as famílias ensinam seus filhos sobre o casamento, pois a lei de direitos humanos de Alberta recebeu uma emenda em 2009 para definir o casamento como uma união entre duas “pessoas” em vez de um homem e uma mulher. “Quando eu leio o Gênesis e ele fala sobre o casamento como a união entre um homem e uma mulher, estou muito claramente desrespeitando a lei de direitos humanos que afirma que casamento é meramente uma pessoa se unindo a outra”, afirma.
De acordo com Faris, a questão com as afirmações de McColl “não é sobre sexualidade ou qualquer outra questão homossexual, mas sobre o governo tentando controlar a forma como ensinamos nossas crianças nas nossas próprias casas”.
Ele afirma que as afirmações de McColl são “particularmente interessantes se levarmos em conta as informações, no mínimo enganosas, que muitos pais que ensinam seus filhos estão recebendo quando ligam para o gabinete do Ministro e escutam coisas do tipo: ‘Veja, não há mudanças aqui. Não iremos fazer nada diferente’”.
“O longo braço do governo quer alcançar as casas das famílias e controlar o que elas ensinam aos seus próprios filhos e nas suas próprias casas sobre religião, sexualidade e moralidade”, acrescenta. “Essas não são palavras de um governo que é amigável à educação domiciliar ou à liberdade dos pais”.
O governo do Partido Progressista Conservador possui 67 dos 83 da casa legislativa da província, de maneira que a aprovação do projeto é praticamente garantida. Mas uma eleição é iminente, e espera-se uma forte demonstração do novo partido direitista Wildrose Alliance. Uma enquete do Forum Research na semana passada mostrou que o jovem partido possui 30% de aprovação do eleitorado, logo atrás do governo com 37%.
A Associação de Defesa Legal da Educação Escolar em Casa faz um apelo aos cidadãos de Alberta para que em contato com o ministério da educação e com seus representantes eleitos.
Informações para contato:
Ministério da Educação:
Hon. Thomas Lukaszuk, Education Minister
423 Legislature Building
10800 - 97 Avenue NW
Edmonton, AB
Canada T5K 2B6
Fone: +1(780) 427-5010
Fax: +1(780) 427-5018
E-mail: edmonton.castledowns@assembly.ab.ca
Gabinete da Premier de Alberta:
Premier Alison Redford
Office of the Premier
Room 307, Legislature Building
10800-97 Avenue
Edmonton, Alberta T5K 2B7
Fone: +1(780)427-2251
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do artigo do LifeSiteNews: “Homeschooling families can’t teach homosexual acts sinful in class says Alberta gvmt

22 fevereiro, 2012

Escola pública: uma pedagogia de risco

Escola pública: uma pedagogia de risco

José Maria e Silva
Polemista corajoso, dono de uma corrosiva ironia, o jornalista e escritor Benjamin Costallat (1897-1961) foi um dos mais apreciados cronistas de seu tempo, retratando a sociedade carioca com uma visão quase futurista, que, já nos anos 20, o fazia perceber a favela como uma “cidade dentro da cidade”, chamando a atenção para o apartheid carioca que continua a dar trabalho ao país. Em uma de suas crônicas, intitulada “Ins­trução?” e publicada no Jornal do Brasil em 3 de março de 1927, Costallat chama a atenção para o ensino público da então Capital Federal.
Como sugere a interrogação do título, tratava-se de uma crítica à “instrução pública”, como era chamado, na época, o emergente ensino público no país, em luta com a hegemonia católica na educação. Ainda faltavam cinco anos para que sociólogo Fernando Azevedo (1894-1974) liderasse o Manifesto da Escola Nova, que defendia a educação laica, com mais investimento na instrução pública. Em seu artigo, Benjamin Costallat descreve uma escola pública do Rio de Janeiro, em que as crianças conviviam com entulhos, animais, esgoto a céu aberto, “sem as mais elementares regras de higiene, na promiscuidade sórdida”, como afirma o autor.
Diante desse cenário de sordidez, Costallat clama pelo fechamento das escolas, afirmando que “melhor é ver aumentar o número de brasileiros analfabetos” do que ver “aumentar o número dos porcos brasileiros”. Hoje, passados 84 anos, o Brasil vive uma situação ainda mais trágica do que aquela descrita pelo jornalista carioca. As escolas deixaram de ser chiqueiros físicos — viraram pocilgas morais. Se no seu tempo, os alunos refocilavam na lama, hoje a escola lhes enodoa a alma. Já não se trata de escolher entre o analfabeto e o porquinho; se depender da criminosa pedagogia progressista, ou se fecham as escolas ou o país terá de escolher entre o analfabeto e o bandidinho — devidamente acompanhado da prostitutazinha.
Mandantes de um crime
Para quem acha que estou exagerando, recomendo a leitura de uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada em 15 de novembro de 2011. A reportagem relata um inacreditável trabalho escolar idealizado por uma professora de português de uma escola estadual da cidade de São Carlos (221.950 habitantes), no interior paulista. A professora pediu a uma aluna de 12 anos que marcasse um encontro com um pedófilo na internet, com o objetivo de analisar as propostas que receberia e, dessa forma, mostrar a todos os alunos o risco que esse tipo de conversa acarreta.
De acordo com a orientação da professora, a menina deveria usar um nome fictício e sua idade real no bate-papo da Internet. Deveria também imprimir toda a conversa com o pedófilo e marcar um encontro com ele no centro da cidade, quando deveria fotografá-lo. Indignada com a tarefa, a mãe conversou com o padrasto da menina e eles decidiram reclamar na direção da escola e levar o caso ao conselho tutelar do município. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo determinou a investigação do caso e o afastamento da professora, “em caráter exclusivamente preventivo”.
As autoridades educacionais paulistas estão certas: é preciso avaliar o caso com isenção e, para isso, convém que a professora seja afastada. Mas não basta — é preciso chegar até os mandantes desse crime. E, sem dúvida, eles estão nos grandes centros universitários do país, começando pela USP e suas congêneres públicas pelo país afora. Hoje, grande parte da ciência produzida nas universidades brasileiras não passa de uma espécie de pederastia intelectual. Já não existe ensino. O que há é manipulação de crianças e adolescentes por parte de ideólogos adultos, que querem fazer a revolução socialista a partir das escolas.
Escola sem limites
A professora que mandou a aluna se encontrar com um pedófilo está apenas aplicando aquilo que a universidade brasileira vem pregando — o protagonismo sem limites de crianças, adolescentes e jovens na suposta tarefa de transformação do mundo. Já não existe assunto proibido para criança em idade escolar. De acordo com as teses acadêmicas e as diretrizes do MEC, crianças e adolescentes podem discutir tudo, menos estudar. Vivemos uma completa inversão de valores: enquanto os adultos têm ojeriza a temas polêmicos, por entender que eles estragam o jantar e a cerveja, as crianças não fazem outra coisa na escola senão buscar soluções para todos os problemas milenares (e insolúveis) da humanidade — desde a fome na África até a criminalidade urbana, passando pela violência contra a mulher, o aborto, as drogas, o racismo, as perversões sexuais.
Pautando-se pela fé vygostkiana na construção coletiva do conhecimento e da moral, a pedagogia estimula o debate de temas inimagináveis entre as crianças, muitos deles espinhosos até para adultos. No livro Limites: Três Dimensões Educacionais (Ática, 2001), o psicólogo Yves de La Taille, professor titular da USP, critica esse excesso de protagonismo juvenil da pedagogia, que coloca a criança diante de dilemas que estão muito além de sua capacidade de discernimento. Ele conta o caso de uma professora que reuniu uma turma de crianças de 6 e 7 anos em torno de uma churrasqueira em brasas e, referindo-se a uma aluna da classe, propôs a seguinte questão: “Podemos jogar Fulana no fogo?”. Um aluno, “com seriedade pelo menos aparente, respondeu que a Fulana em questão devia, sim, ser jogada no fogo” — para o total desconcerto da professora.
A própria ONU — que não passa de uma Internacional Socialista — é a principal defensora do protagonismo juvenil, não admitindo nenhuma distinção entre crianças e adultos. Prova disso é que sua Convenção sobre os Direitos da Criança (macaqueação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que inspirou o Estatuto da Criança e do Adolescente) diz textualmente em seu artigo 13, parágrafo 1º: “A criança terá o direito à liberdade de expressão; este direito incluirá liberdade para procurar, receber e partilhar informações e ideias de todos os tipos, independentemente de fronteiras, oralmente, por escrito ou na forma impressa ou de arte, ou através de qualquer outro meio de escolha da criança”.
Caso se leve a sério este artigo da Convenção da ONU, uma criança tem o direito inalienável de dizer palavrões de qualquer espécie (“direito à liberdade de expressão”); ler manuais de tortura e distribuir panfletos racistas (“receber e partilhar ideias de todos os tipos”); ver, pela internet, cenas de pedofilia com crianças asiáticas e estupros coletivos nos Bálcãs (“procurar informações e ideias de todos os tipos na forma impressa ou de arte”). Ou seja, a ONU preconiza para crianças de qualquer idade a mesma liberdade de um adulto, esquecendo-se que não se pode falar em liberdade sem responsabilidade. É obvio que as crianças, uma vez que não podem se responsabilizar por seus atos, também não podem ser totalmente livres.
Fanatismo revolucionário
Nesse contexto de verdadeira putrefação ética, aprendida nos bancos das faculdades, é quase inevitável que uma professora ache natural mandar uma aluna de 12 anos entrevistar um pedófilo. Trata-se de uma consequência direta do ensino ministrado nas universidades, especialmente nas faculdades de pedagogia. Até as pesquisas científicas da área costumam ser batizadas com um nome imbecil, “pesquisação”, em que a palavra “ação” desnuda o fanatismo revolucionário da pedagogia, toda ela calcada na autoajuda marxista de Paulo Freire. E o que é mais grave: a ação tem de ser sempre coletiva, pois o pensamento hegemônico nas academias abomina a consciência individual — tratada como mero epifenômeno burguês, a ser extinto com a revolução socialista.
Hoje, todas as universidades brasileiras desenvolvem programas de mediação de conflitos nas escolas, em que crianças e adolescentes são chamados a mediar a verdadeira guerra civil que viceja entre as gangues estudantis. Isso quando a própria escola não se torna a principal fábrica de conflitos, através da ideologia marxista, que joga negros contra brancos, pobres contra ricos, ateus contra religiosos, drogados contra sóbrios, nordestinos contra demais paulistas e gays contra as demais pessoas. Baseando-se na tese da filósofa Marilena Chauí de que a única ética possível é a ética de esquerda, a universidade especializou-se em atiçar as turbas contra o indivíduo, como se vê na USP.
Prova disso é que o aluno que se esquiva das más companhias é visto como preconceituoso. A psicóloga e socióloga Sílvia Ramos, doutora em Saúde Pública pela Fiocruz e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, numa entrevista à Agência Brasil, chegou a criticar os adolescentes e jovens que se afastam dos usuários de crack: “Os próprios jovens são muito preconceituosos e contribuem para isolar o adolescente que usa crack. Ele se descontrola e rapidamente se torna dependente. E isso não contribui para que ele peça ajuda, peça socorro”. Convém ressaltar que essa afirmação absurda, que não tem sustentação sociológica, psicológica, médica ou ética, foi feita por uma profissional com doutorado numa das mais importantes instituições cientificas do país — a Fiocruz.
Pedofilia como invenção
Se uma autoridade acadêmica considera que é dever do adolescente se aproximar do usuário de crack para ajudá-lo a sair do vício, por que uma professora da escola básica não pode pedir a uma aluna que converse com um pedófilo? Não tenho dúvida que o usuário de crack é muito mais perigoso do que o pedófilo, inclusive porque o fenômeno da pedofilia — com a dimensão que adquiriu nos bancos das academias e nas páginas dos jornais — não passa de um espectro inventado pelo movimento gay e pelas feministas. Já o viciado em droga é um perigo ambulante. Quantos usuários de crack não são mortos por traficantes devido a dívidas do vício? Um pai pode trabalhar tranquilo se souber que na escola os doutores universitários acusam seu filho de ser preconceituoso por não andar com o drogado, arriscando-se, no mínimo, a levar uma bala perdida?
O casuístico mito do pedófilo ofuscou até a bárbara concretude do estuprador. Ninguém liga mais para o monstro que violenta mulheres — a ordem agora é perseguir pedófilo, mesmo que sua vítima seja uma voluntária de 17 anos, que vive de vender o corpo de modelo. Mas o pedófilo, convém frisar, não se define pelo que faz na cama e, sim, pelo que representa socialmente. Para ser pedófilo é preciso ser branco e, de preferência, rico, tendo pago pelo sexo que a menor — voluntariamente — fez com ele. Se o sujeito é bandido, a coisa muda de figura: em nome dos direitos humanos, ele passa a ter o monopólio da presunção de inocência, negada ao cidadão honesto. Por isso, quando é preso, mesmo que seja latrocida, traficante e até estuprador, passa a ter o inalienável direito a visitas íntimas, inclusive com menor, caso sua namorada declarada tenha menos de 18 anos.
Todos os sábados e domingos as cadeias brasileiras são transformadas em parques de diversões. Suas portas se abrem para as famílias dos presos, inclusive crianças e adolescentes, entre elas, meninas com os seios em botão. Vão acompanhando a mãe, que vai visitar o marido ou o filho preso. Como entram no presídio de manhã e só podem sair no final da tarde, seu universo social se estreita e não é raro que essas meninas, ainda menores, comecem a namorar um colega de cela do pai ou do irmão. Logo, se tornam repasto de assassinos, ladrões e traficantes nas famigeradas visitas íntimas e acabam presas na porta da cadeia com a vagina entulhada de droga, como aconteceu com uma adolescente no final de outubro, num presídio do interior de São Paulo.
Amélias dos gays
Essa trágica realidade — um verdadeiro genocídio físico e moral das mulheres — não preocupa as autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário, muito menos os intelectuais das universidades, inclusive as feministas, que viraram Amélias dos gays.  Essa gente prefere se ocupar dos direitos humanos dos presos. Prova disso é a dissertação “Crianças Pré-escolares e Prisão Paterna”, defendida em 2007 pela psicóloga Márcia Valéria Reis Beckman no Mestrado em Psicologia da PUC de Campinas. Ela entrevistou familiares de presos e critica a visão que eles têm do presídio como “um lugar ruim”, chegando a ironizar o fato de que não consideram o ambiente carcerário adequado para uma criança, “um ser puro e ingênuo” — segundo a sarcástica expressão da pesquisadora.
Esse desrespeito com o sofrimento alheio se torna ainda mais chocante quando se sabe que a pesquisadora tinha conhecimento do tratamento que as crianças, inevitavelmente, recebem no presídio. Uma das mães entrevistadas (com 23 anos e um filho de 4 anos, cujo pai estava preso por tráfico de drogas) disse que a revista das visitas era muito invasiva e que as mulheres dos presos ficavam fazendo piadinhas com os guardas e fazendo posições pornográficas, na frente do seu filho. Outra mãe, de 39 anos, contou à pesquisadora que entrava numa sala junto com outras cinco ou seis mulheres e todas elas, completamente nuas, agachavam-se e levantavam três vezes para que as guardas vissem se nenhum droga iria cair de suas partes íntimas. E a criança presenciando tudo isso.
Mesmo assim, a pesquisadora da Unicamp minimiza os evidentes danos que essa situação causa nas crianças, preferindo preocupar-se com o bem-estar os presos e sua suposta ressocialização: “Muito embora não haja muito debate sobre os prós e contras das visitas de crianças aos pais encarcerados, tais visitas podem ser vistas como atividades positivas e de grande apoio, pois elas ajudam o pai preso, a família, a instituição prisional e, em último caso, a sociedade como um todo, pois as visitas amortecem as tensões pessoais e facilitam a gestão do espaço prisional". Mais grave é que essa não é uma posição isolada da pesquisadora: toda a universidade brasileira pensa assim e induziu o Estado a pensar o mesmo, destruindo crianças inocentes a pretexto de consertar seus pais criminosos.
Sexo precoce e oficial
Se pesquisadores universitários e autoridades constituídas acham normal criancinhas de três, quatro, cinco anos responsabilizarem-se pela recuperação do pai criminoso, sendo obrigadas a contribuir para evitar rebeliões no presídio, mesmo ao preço de ver a mãe pelada, em meio a vaginas balançantes, por que uma professora mal formada e mal paga da rede pública não pode pedir à sua aluna de 12 anos que faça um trabalho escolar com um pedófilo? Reconheço que a professora foi até mais decente do que os mestres e doutores que a formaram: ela passou a absurda tarefa para a menina, mas mandou um bilhete aos pais pedindo que acompanhassem de perto todo o trabalho.
Ou seja, a menina não corria nenhum risco físico. O dano seria moral se ela conversasse com o pedófilo. É óbvio que uma criança nessa idade deveria ser preservada das misérias do mundo.  Infelizmente, isso não ocorre. Vive-se nas escolas a pedagogia do Marquês de Sade. Os textos paradidáticos adotados na educação básica submetem as crianças a um verdadeiro festival de violência, que vai da chacina à tortura, passando pelo estupro e o incesto. Para a universidade, a infância é uma invenção burguesa, que precisa ser destruída. A morte da infância dispensa a autoridade paterna; com isso, crianças, jovens e adolescentes tornam-se presas fáceis da ideologia revolucionária, sempre em busca de marionetes humanas.
Mas não é preciso ir muito longe para compreender a loucura pedagógica da professora de São Carlos. Em 2003, o Ministério da Saúde começou a distribuir camisinhas para meninas a partir dos 13 anos. Na época, a cantora Kelly Key, que fazia sucesso com a música “Baba” (uma indisfarçável defesa da pedofilia) foi contratada para promover a campanha. O então ministro da Saúde, Humberto Costa, afirmou textualmente à Folha de S. Paulo: “Ela passa uma imagem de menina que tem poderes de decisão em uma relação”. Reparem: o ministro não estava falando de uma mulher, mas de uma menina de 13 anos — filha dos outros, dos pobres, obviamente.
Como se não bastasse, dois anos depois, o mesmo Ministério da Saúde decidiu estimular ainda mais o sexo precoce e anunciou que sua prioridade seriam os alunos de 10 a 15 anos, que passaram a ser o foco da distribuição de camisinhas. Na Folha de S. Paulo, em 16 de março de 2005, intelectuais universitários defenderam essa política. O psicólogo Áderson Costa, professor da UnB, chegou a afirmar que “uma criança de três anos pode ter orientação sexual” e sustentou que, “aos 10, 11 anos acaba a infância” e que, “nessa hora a informação é bem-vinda”. Já a psicóloga Maria Cecília Pereira da Silva, do Conselho Federal de Psicologia, defendeu que se deve dar camisinha para as crianças de 10 anos, acompanhada de orientação, para que “a criança possa refletir, discutir e ser responsável pelas suas escolhas”.
Como se vê, a professora de São Carlos, ao mandar sua aluna de 12 anos conversar e se encontrar com um pedófilo, estava apenas pondo em prática o que a universidade ensina e o governo federal impõe. Mas, como eu disse, ela foi até mais responsável do que as autoridades acadêmicas e ministeriais. Ao menos procurou envolver a família na tarefa absurda. Já o governo federal — à revelia dos pais — entrega camisinha na mão das meninas de dez anos e, repetindo as autoridades acadêmicas, diz: “Seja responsável por suas escolhas”.
Esses e não os pedófilos de ficção são os verdadeiros inimigos da infância.
Publicado originalmente no Jornal Opção.
José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.
Divulgação: www.juliosevero.com
Por que os políticos não querem mandar seus filhos às escolas públicas?