Um agente secreto da Inquisição no Ministério da Educação do Brasil?
Julio
Severo
Uma revelação um tanto misteriosa mostrou que um
defensor da Inquisição está trabalhando dentro do Ministério da Educação do
Brasil.
“O
livro do prof. Ricardo da Costa, agora a serviço do governo do presidente
@jairbolsonaro no INEP, precisa da contribuição de todos para ser publicado!
Visões da Idade Média, com artigo inédito sobre a Inquisição e outros mais.”
O próprio Ricardo da Costa confirmou a mensagem
compartilhando-a.
A presença de Costa no INEP, que é uma divisão do
Ministério da Educação do Brasil, é uma contradição total da suposta missão do
presidente Jair Bolsonaro, que prometeu remover a doutrinação ideológica do
governo brasileiro, especialmente de sua educação.
Enquanto a missão do Ministério da Educação é educar,
a missão de Costa tem sido “educar” as pessoas sobre os alegados benefícios da
Inquisição. Ao mesmo tempo em que Costa está trabalhando nesse ministério, ele
está lançando seu livro sobre a Inquisição. Ele é um ideólogo da Inquisição.
No
Facebook, Costa participou do “Grupo de Estudo sobre a Inquisição com Prof.
Ricardo da Costa.” Além de defender a Inquisição em artigos de internet, Costa é
autor do prefácio do livro “A Verdadeira História da Inquisição,” que visa
reabilitar a imagem dessa máquina assassina.
Em entrevista ao Terça Livre, canal de internet de
adeptos do astrólogo Olavo de Carvalho, ele explicou que
a Inquisição deu origem ao sistema jurídico processual e que antes desse
tribunal os julgamentos eram sumários.
Tal informação pareceria interessante para pessoas que
não têm conhecimento de história, mas muitos séculos antes da Inquisição, o Apóstolo
Paulo foi julgado por tribunais romanos e seu processo levou anos. Não houve
julgamento ou execução sumária. Paulo teve muito tempo para pregar o Evangelho
enquanto seu processo estava em andamento. Então a informação de Costa é uma
mentira descarada.
Além disso, Paulo teria preferido morrer por Jesus a matar
por Jesus. Essencialmente, a Inquisição matava usando o nome de Jesus para o
mal, para proteger os interesses religiosos, políticos e financeiros da Igreja
Católica.
Costa não tem nenhum apoio do Apóstolo Paulo e do Novo
Testamento para defender a Inquisição.
Os judeus, que eram as principais vítimas da
Inquisição, não concordariam com Costa. Os evangélicos, que também eram
vítimas, concordariam com os judeus.
A Inquisição também operou no Brasil torturando e
matando judeus. A Inquisição só foi parada no Brasil por pressão da Inglaterra,
no início do século XIX, que não queria que seus autoridades e marinheiros em
viagem fossem executados por serem evangélicos.
Hoje, há um Museu da Inquisição no Brasil e um
dos estados brasileiros, Pernambuco, tem uma data em memória dos judeus que
foram vítimas da Inquisição.
Com a eleição de Jair Bolsonaro, havia a esperança de
que o Ministério da Educação pudesse, finalmente, incluir oficialmente na
história brasileira a perseguição aos judeus sob a Inquisição. É um fato
indiscutível que a Inquisição torturou e matou judeus brasileiros.
É um fato indiscutível também que Jair Bolsonaro foi
eleito especialmente por evangélicos, que são tão favoráveis aos judeus que
querem que Bolsonaro mude a embaixada brasileira para Jerusalém. E houve gratidão
— da parte de Israel. Em sua primeira viagem ao Brasil para estar na posse de
Bolsonaro, o
primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que os evangélicos são os
melhores amigos de Israel.
Em sua campanha, Bolsonaro realmente disse que a mudança
da embaixada era fundamental, mas agora com a presidência firmemente em seu
poder, ele fez comentários sugerindo que tal mudança não é tão importante.
O voto evangélico foi importante ou não para ele? Era
tão importante que, em 2016, enquanto líderes
evangélicos estavam fazendo o impeachment da presidente socialista Dilma
Rousseff,
Bolsonaro, que é nominalmente católico, estava em Israel sendo batizado por um pastor
pentecostal no rio Jordão. Apesar das aparências brilhantes, ele não se converteu
ao evangelicalismo ou ao pentecostalismo. Seu batismo foi apenas uma manobra
política para atrair evangélicos. Funcionou.
Entretanto, hoje os cargos de mais alto nível no governo
dele estão nas mãos não de evangélicos que o apoiaram. Estão nas mãos de adeptos
de Carvalho,
que, embora seja um imigrante autoexilado nos EUA, é o mais proeminente
defensor da Inquisição no Brasil.
Os evangélicos foram traídos pelo oportunismo
político.
Certamente, o atual Ministério da Educação tem feito
esforços para remover o marxismo. Esse é um bom objetivo. No entanto, o novo ministro,
Ricardo Velez, é conhecido não só como adepto de Carvalho e inimigo do
marxismo, mas também como hostil a Trump. Você pode ver este artigo: Novo
ministro da Educação: hostil ao socialismo e Trump, amistoso com Bolsonaro e
Hillary
A boa notícia é que, finalmente, o Ministério da
Educação do Brasil está permitindo a educação escolar em casa, mas os
indivíduos indicados para tomar conta de sua administração também são adeptos
de Carvalho, e todos eles têm poucos anos de experiência com a educação escolar
em casa. E todos eles acreditam e proclamam que a Inquisição promoveu direitos
humanos e não torturou e matou judeus e protestantes.
Tenho lutado em defesa do homeschooling (educação
escolar em casa) no Brasil há mais de 20 anos e minha luta tem sido publicada
no Brasil e outras nações. Aliás, publiquei o primeiro livro de educação escolar
em casa no Brasil, “De Volta Ao Lar,” de Mary Pride.
Rinaldo Belisário, pastor
batista e especialista em educação, tem mais de 25 anos de experiência com a
educação escolar em casa
e até tem um currículo de educação escolar em casa. Contudo, Bolsonaro, que foi
eleito pelos evangélicos, rejeitou evangélicos com larga e velha experiência na
educação escolar em casa e indicou defensores da Inquisição com muita
militância ideológica, mas com pouca experiência em educação escolar em casa.
Tenho lutado contra o marxismo no Brasil por décadas,
especialmente por causa de sua oposição à educação escolar em casa. Mas
misturar a educação escolar em casa com a defesa da Inquisição é a nazificação
de uma boa ideia. Eu uso o termo nazista porque tanto o nazismo quanto a
Inquisição estavam engajados em perseguir, torturar e matar os judeus.
Não nos deixemos enganar: o nazismo também lutava
contra o marxismo, e a
maioria dos judeus que Hitler matou era marxista. Mas o
antimarxismo do nazismo
era de natureza ocultista. O antimarxismo
de Carvalho também é de natureza ocultista.
Lutei tanto contra o marxismo que ocupava um trono no
Ministério da Educação para vê-lo agora sendo ocupado por revisionistas da
Inquisição que abraçam um ocultismo antimarxista?
Versão
em inglês deste artigo: An Undercover Agent of the Inquisition
in Brazil’s Ministry of Education?
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