12 maio, 2005

A Família Natural: Um Manifesto

Inédito no Brasil! Pela primeira vez disponível em língua portuguesa, o texto completo do mais importante documento atual de defesa da família. Edição exclusiva fornecida por Julio Severo (www.juliosevero.com.br).

A FAMÍLIA NATURAL: UM MANIFESTO ©

Allan C. Carlson & Paul T. Mero

ALLAN C. CARLSON é presidente do Centro Howard para a Família, Religião & Sociedade em Rockford, Illinois, e membro do Conselho de Pesquisa da Família em Washington, DC., EUA.

PAUL T. MERO é presidente do Instituto Sutherland em Salt Lake City, Utah, EUA.

O que é a família natural? A resposta vem à mulher e ao homem que aceitam o risco de transformar seu amor em promessas de dedicação e entrega por toda a vida.

Ao fazerem isso, eles descobrirão a história da família, uma visão ideal e ao mesmo tempo uma realidade universal. Em nossa época, eles também sentirão a crise, pois forças malignas estão destruindo a fonte comum de liberdade, ordem, integridade moral e filhos. Para acertar as coisas, eles precisarão procurar princípios claros, metas acessíveis e um firme curso de ação. Eles também precisarão rejeitar falsas acusações e compromissos fracos. Mas com essa atitude eles virão a conhecer a verdadeira liberdade, o acolhimento do ambiente doméstico e uma volta genuína ao lar, para si mesmos e para toda a humanidade.

A HISTÓRIA DA FAMÍLIA

Um jovem e uma moça se sentem atraídos um pelo outro. Eles anseiam ser um. Quando um vê o outro, aparecem sorrisos radiantes. Eles sentem a possibilidade da alegria. Sozinhos, eles se sentem fragmentados, incompletos. Quando estão juntos, eles se sentem completos. As pessoas com quem eles vivem abençoam essa união na celebração do casamento. O homem e a mulher trocam em público votos um com o outro, e também com seus parentes e vizinhos, e os dois se tornam uma só carne.

Com o tempo, a alegria e a paixão deles serão testadas pelas viradas e surpresas da vida. Eles chorarão juntos, às vezes de felicidade, às vezes de tristeza. Eles enfrentarão doenças; pode ser que conheçam a pobreza; pode ser que enfrentem um transtorno ou desastre natural; pode ser que uma guerra os separe. Em tempos de desespero ou perda, eles se fortalecerão um no outro. Ao enfrentarem a morte, eles sentirão o caloroso bálsamo espiritual que cura a dor da separação física. A união conjugal construída na base da fidelidade, obrigações e respeito mútuos permite que homem e mulher desenvolvam seu pleno potencial; eles se tornam o que seu Criador planejou, um ser completo.

Esse casamento cria uma nova família, um lar, a primeira e mais fundamental unidade da sociedade humana. Aí, marido e esposa edificam um pequeno sistema de produção e consumo. Eles dividem o trabalho de prover, cada um ganhando inspiração nos interesses, forças e talentos do outro. Eles edificam um lar que se torna um lugar especial na terra. Nos séculos passados, a pequena fazenda ou a oficina do artesão era a expressão comum dessa união entre família e trabalho. Hoje, são mais comuns as casas geminadas, os apartamentos e os lares suburbanos. Contudo, o pequeno sistema de produção e consumo do lar permanece o centro vital da existência diária.

A esposa e o marido também edificam seu lar como um lugar espiritual. Eles aprendem que família e fé são, de fato, dois lados da mesma moeda. O lar cheio de vida tem como base a reverência, a adoração e a oração.

Dessa mesma união natural flui nova vida humana. Os filhos são a principal finalidade, ou propósito, do casamento. O casal observa maravilhado enquanto seu bebê se desenvolve dentro da mãe. A alegria e a admiração expulsam a dúvida e o medo ao mesmo tempo em que eles vêem seu amor transformado numa criança viva. Partes de seus próprios seres entraram na composição da criança, formando uma pessoa nova e sem igual. O novo pai assume a proteção da nova mãe em seu momento de vulnerabilidade e dependência. Depois da tribulação do parto vem a felicidade, enquanto a nova mãe amamenta e cuida de seu bebê e enquanto o pai acaricia seu primeiro filho. Receber uma criança através da adoção produz sentimentos semelhantes. De tais momentos maravilhosos, esses pais são os primeiros professores da criança; seu lar, a primeira e mais vital escola. Eles passam para a criança o treinamento especial para viver e lhes ensinam a satisfação de conversar, ler, raciocinar e explorar o mundo.

Inspirado pelo amor, o casal abre sua união para mais filhos, enchendo seu lar, e enchendo a terra. Esses pais conhecerão a alegria de observar irmãos e irmãs crescerem juntos. Eles observarão com um misto de orgulho e preocupação quando seus filhos derem seus primeiros passos, tentarem suas primeiras obrigações em casa e assumirem suas primeiras responsabilidades. Entre os filhos, haverá joelhos esfolados, brigas por causa de brinquedos, perdas em competições esportivas, lágrimas e risos. Ao crescerem, os filhos entram passo a passo num mundo mais amplo. Em tudo isso, porém, seus pais permanecem como orientadores e protetores, e o lar serve como abrigo e foco de sua vida em comum.

Aliás, a família natural abre seu lar para outros parentes. O amor e cuidados que fluem dos pais para com as crianças novas se espelham nos cuidados e amor que os filhos adultos dão a seus pais em fase de envelhecimento. A família verdadeiramente rica ganha inspiração com os melhores e mais fortes pontos de três ou mais gerações. Essa família cuida de seus membros. Cada geração se enxerga como um elo numa corrente inteira mediante a qual a família se estende dos séculos passados para os séculos futuros.

Em tudo isso, a família natural abre as portas para uma vida agradável e para a verdadeira felicidade. Totalmente envolvidos na vida dos outros familiares, os membros da família agem com altruísmo, onde eles fazem presentes sem pensar em si. Bondade gera bondade, desenvolvendo um grupo unido trabalhando em amor. Os parentes repartem tudo o que têm, sem esperar nada em troca, só para receber mais do que eles já poderiam ter imaginado. Esse é o amor que traz sorrisos radiantes para as novas mães e agrada os pais enquanto eles observam seus filhos crescerem e se tornarem rapazes e moças de caráter. É esse o afeto que estimula a caridade, as boas obras e o verdadeiro espírito de comunidade. É essa a graça mediante a qual os enlutados dizem adeus àqueles cujos anos se cumpriram na terra, que foram chamados para outra condição.

A vida política justa flui de lares em que habita a família natural. A verdadeira soberania se origina aí. Esses lares são a origem da liberdade com ordem, que é a fonte da real democracia e o terreno certo para o plantio de excelentes qualidades morais. As vizinhanças e vilas inicialmente expressam sua vida política mais ampla, mediante a qual as famílias se policiam sem violar a autonomia dos lares. Nesse sentido, o governo ideal é local. Até mesmo uma nação “nada mais é do que o agregado de famílias dentro de suas fronteiras”.[1] Os governos existem para proteger as famílias e para encorajar o crescimento e a integridade da família.

TEMPO DE CRISE

Contudo, a família natural — parte da ordem criada, impressa em nossa natureza, fonte de abundantes alegrias, fonte de nova vida, fortaleza da liberdade com ordem — continua sofrendo insultos e ameaças no início do século XXI. Os inimigos vêm lançando ataques em todos os aspectos da família natural, contra a união do casamento, contra o nascimento de bebês e contra a verdadeira democracia de lares livres. Cada vez mais, as famílias apresentam sinais de fraquezas e desordens. Vemos um número cada vez maior de rapazes e moças rejeitando a plenitude e alegria do casamento, escolhendo em vez disso substitutos baratos ou escolhendo permanecer solteiros e solitários, onde eles são presas fáceis para o governo, que quer ser tudo na vida deles. Um grande número de crianças está nascendo fora do casamento, terminando sob a custódia desse mesmo governo. Poucas crianças estão nascendo em lares em que os pais estão casados, uma situação que prenuncia um grave problema na sociedade nos anos seguintes: Diminuição da população jovem e aumento da população idosa.

O que tem provocado esse distanciamento da humanidade de sua verdadeira natureza e lar genuíno? Há duas agressões fundamentais contra a família natural, com raízes que vêm de 200 anos atrás: em resumo, o desafio do industrialismo e a agressão da idéias novas que não reconhecem a família.

Por um lado, o triunfo do industrialismo trouxe uma “grande reviravolta”[2] e uma “grande transformação”[3] nas relações humanas. A criação de riquezas acelerou sob o sistema de indústrias. Entretanto, esse lucro real se sustentava na eliminação da produtividade doméstica e na reviravolta do ambiente natural da vida familiar. A união original entre lar e trabalho pareceu desaparecer. Os produtos e tarefas feitos pela família se tornaram mercadorias, coisas para se comprar e vender. As fábricas, escritórios e depósitos centralizados assumiram as tarefas do trabalho, horta, cozinha e depósito da família. Maridos, esposas e até crianças eram atraídos e levados a sair do lar e então organizados em fábricas de acordo com o princípio que regulava onde havia mais necessidade de seu trabalho. Máquinas sem alma minavam a complementaridade natural dos sexos nas tarefas produtivas. Crianças eram deixadas para se virarem sozinhas, pois se achava que suas famílias não mais guiavam seu futuro. Em vez disso, as crianças agora viam apenas empregadores que elas mal conheciam.

Os políticos também adotaram o ideal industrial e promessas de eficiência. Leis recentes negavam às crianças uma educação cujo centro era a família e as colocavam nas escolas de massa do governo. O índice de fertilidade caiu, pois “ainda não se comprovou que alguma sociedade consegue sustentar uma fertilidade elevada depois de duas gerações em escolas de massa”[4]. O Estado também invadia o lar, arrancando dos pais o direito de proteger seus filhos. O Estado fazia isso através do movimento de reformatórios e mais tarde através das medidas para “impedir o abuso infantil”. A residência da família, antes um lugar cheio de vida e rico em obrigações de trabalho útil e produtivo e apoio mútuo, estava se transformando num lugar sem aquelas obrigações, um lugar em que as pessoas meramente vinham para dormir e descansar, pois a dedicação e ocupação principal de suas vidas agora pertenciam, no caso dos filhos, à escola institucional e, no caso dos adultos, ao ambiente de trabalho fora do lar.

O que é mais sério é que na mesma época novas idéias surgiram que rejeitavam a família natural. Alguns filósofos políticos sustentavam que o indivíduo sozinho era a verdadeira célula da sociedade. Eles afirmavam que os laços de família — inclusive entre marido e esposa e entre mãe e filhos — mostravam simplesmente o domínio de uma pessoa egoísta sobre outra.[5] Outros teoristas argumentavam que o indivíduo, sozinho, era realmente oprimido por instituições como a família e a igreja. De acordo com esse ponto de vista, o governo, que se tornava o centro de tudo, era apresentado e defendido como se fosse um suposto agente de liberação. O governo sozinho poderia libertar o indivíduo escravizado das “cadeias da tradição”[6]. A partir dessas suposições surgiu uma terrível nuvem de ideologias que tinham um alvo em comum: a família natural. Esses sistemas de idéias incluíam o socialismo, o feminismo, o comunismo, o hedonismo sexual, o nacionalismo racial e o liberalismo secular.

Eles se uniram, como nunca antes, nas idéias da Revolução Francesa. Seus partidários espalharam essas idéias — ou suas sementes — através da Europa, e com o tempo eles as levaram ao mundo inteiro. Uma grande guerra — uma guerra por causa da natureza da ordem social — tomou conta dos anos 1789-1815. O que veio em seguida foi um terrível transtorno para a família e a morte de milhões.

Os defensores da família natural — personalidades como Bonald [7] e Burke [8] — contra-atacaram. Eles defenderam os “pequenos pelotões” de vida social, acima de tudo o lar. Eles reviveram as idéias que mostrariam novamente a necessidade da família natural. Eles revelaram que a natureza da sociedade orgânica é uma comunidade de lares livres.

Enquanto isso, uma grande aliança finalmente esmagou a força da Revolução Francesa. Durante o período da restauração na França, leis que facilitavam o divórcio— introduzidas pela Revolução Francesa — foram eliminadas. As famílias reivindicavam autoridade. A nova classe média, que estava em crescimento, logo criou uma ordem moral cujo centro era o lar e a mãe no lar. De modo mais amplo, os líderes religiosos e os reformadores sociais tiveram sucesso em seu trabalho de domar o impulso industrial. Deve-se receber de braços abertos as maravilhas da produção no sistema industrial, pensavam eles. No entanto, ainda era possível abrigar a família que trabalhava fora. Eles elogiavam as corporações mantidas por famílias, onde o sentimento social e religioso poderia suavizar a obrigação da eficiência. E eles adotaram o ideal do “salário-família”, através do qual o setor industrial podia tomar apenas um adulto por família, o pai, que por sua vez tinha o direito natural a um salário de subsistência que também sustentasse decentemente a mãe e os filhos no lar. Os sistemas políticos favoráveis ao salário-família floresceram na Europa Ocidental, na Américas, na Austrália e na Nova Zelândia.

Um século depois, porém, esse novo equilíbrio se desfez novamente. O conflito horrendo chamado a I Guerra Mundial começou por causa de temores e rivalidades políticas. No entanto, sua carnificina produziu, como frutos, o efeito despropositado de multiplicar o poder dos responsáveis pelas industrias e de liberar mais uma vez aquelas ideologias que têm, como sentimento em comum, uma violenta hostilidade contra a família natural. A produção das fábricas envolvidas na guerra acabou com os direitos da pequena propriedade e das comunidades locais. As novas feministas se distanciaram dos filhos e do papel de mãe e novamente deram toda a sua atenção a uma igualdade legalista e sem filhos. Os liberais seculares inundaram toda a Europa desanimada com sua mensagem pós-cristã de que o indivíduo deve se ocupar exclusivamente com os seus próprios interesses pessoais. Os neo-maltusianos promoveram seu argumento desgostoso de que filhos são a causa da pobreza e das guerras. E os hedonistas sexuais exigiam o direito de modificar os princípios morais dos jovens desiludidos. O que é mais terrível é que os comunistas ganharam o controle da Rússia em 1917 e sem demora se mobilizaram para eliminar a família. Cinco anos depois, os fascistas triunfaram na Itália, juntamente com seus esforços de elevar o governo acima do lar e da família. Em 1933, o socialismo nacional passou a governar a Alemanha e, em sua busca de um império racial, despedaçou as famílias.

Por 74 anos (1917-91), ocorreu outro grande conflito por causa da natureza da ordem social. Aquelas nações que se mantinham firmes (às vezes de forma fraca) a uma democracia construída na base da família natural ideal — consistentemente a Austrália, a França, a Grã-Bretanha, a Nova Zelândia e os Estados Unidos — entraram em guerra contra os países totalitários. Houve conflitos abertos (às vezes envolvendo estranhas alianças) durante a Guerra Civil Russa, a II Guerra Mundial e, mais tarde, em lugares como a Coréia e o Vietnã. Os anos intermediários foram preenchidos com as guerras “frias”. Mais de 140 milhões de pessoas pereceram nas mãos de governos totalitários antifamília.

Contudo, em 1991, ano do colapso da União Soviética, o nazismo, o fascismo e o comunismo na Europa estavam vencidos. Os países democráticos, centralizados na família, haviam vencido. Mas depois da vitória eles descobriram que os outros sistemas de idéias, que também haviam sido liberados durante o desastre da I Guerra Mundial, haviam ganhado o poder em suas próprias pátrias: um feminismo que igualava tudo, o hedonismo sexual, o neo-maltusianismo e o secularismo militante. Eles também viram a ciência interferindo, sem nenhum limite moral, nos atos sexuais mais íntimos. Até mesmo a concepção de um bebê, que é uma missão vital e exclusiva dos casais, passou a ser uma questão tratada por laboratórios e indústrias farmacêuticas.

O eixo do tempo, acabou se vendo, havia sido os meados da década de 1960. Entre todas as nações ocidentais, encontramos eventos em comum nesse curto período: novos desafios legais aos sistemas bem-sucedidos do salário família; campanhas conscientes para expulsar o Criador da vida cívica; a propagação rápida da pornografia; novas reivindicações de divórcio fácil; ataques contra o significado da palavra ‘esposa’ e ‘marido’; um aumento na retórica de direitos ‘sexuais’ e direitos de ‘gênero’; campanhas governamentais conscientes com o objetivo de reduzir o tamanho da população; medidas para facilitar o acesso ao aborto; reivindicações de revolução sexual; rejeição dos conceitos de obrigações e compromisso de longa duração; e avanços assustadores na manipulação da vida humana. Os americanos chamam essa época de abalo e medo moral de “os anos 60”, mas a campanha atingiu também a década seguinte.

Aliás, em 1980, os inimigos prontos para atacar a família natural podiam contabilizar muitas vitórias no mundo ocidental. Em quase todos os lugares do Ocidente, leis de aborto liberais aumentavam a força das campanhas governamentais para enfraquecer o casamento e reduzir o tamanho da família. As leis liberais de divórcio e as leis de imposto que impunham um grande e injusto peso sobre o casamento enfraqueciam o próprio alicerce da ordem social. O número de divórcios aumentou assustadoramente. A imposição de plena “igualdade sexual” destruiu os sistemas de salário-família; o salário real dos pais caiu de modo cruel; as mães jovens voltaram às fábricas e escritórios e seu número cada vez menor de filhos foi entregue às creches sustentadas pelo governo. A “educação sexual” nas escolas zombava da castidade e fidelidade e incentivava os jovens a experimentar o sexo. O homossexualismo ganhou posição social como “preferência sexual” legítima. Os sistemas de seguridade social vieram a favorecer casais sem filhos e a impor penalidades nas famílias com mais filhos. Os sistemas de impostos agora castigavam a gravidez dentro do casamento, enquanto os governos que se colocavam como o principal provedor das necessidades humanas recompensava a gravidez fora do casamento, sustentando as mães solteiras. A fertilidade dentro do casamento caiu como uma pedra, mas os nascimentos ilegítimos subiram nas alturas. E essas mesmas forças eliminaram o Criador da maior parte das esferas públicas.

Na década de 1990, a campanha deles era mundial. Cinicamente, eles usaram o Ano Internacional da Família, 1994, para lançar uma série de conferências da ONU planejadas para destruir a família natural também nas nações em desenvolvimento. As conferências da ONU no Cairo, Beijing, Istambul e Copenhagen foram as arenas em que eles tentaram impor sua ordem “pós-família”.

Entretanto, eles se esqueceram de uma verdade: “a instituição do lar é a única instituição anarquista… É a única que pode colocar um limite no Estado, estando destinada a se renovar eternamente como o Estado, e mais naturalmente do que o Estado”[9]. A medida em que a sociedade se tornou hostil, as famílias naturais sentiram os golpes e se despertaram. Sinais de renovação vieram de novos líderes e do crescimento de movimentos, popularmente conhecidos como “pró-vida” e “pró-família”, que se levantaram para defender a família natural. No começo do século XXI, esses — nossos — movimentos já podiam contabilizar alguns ganhos modestos. No entanto, esses dois movimentos sofreram impedimentos com sua postura reativa e defensiva e por uma confiança na ação política nas grandes capitais centrais.

Em nossa época, os partidários de um mundo “pós-família” são ainda aqueles que estão na ofensiva. Por exemplo, nosso movimento pró-família não conseguiu restaurar a proteção legal ao casamento repelindo a revolução de leis liberais de divórcio. Em vez disso, em 2005, estamos numa luta desesperada para simplesmente impedir a instituição do casamento de ser adaptada aos homossexuais. E nossos dois movimentos não conseguiram desacelerar a guerra dos governos contra a fertilidade humana, apesar da nova probabilidade de uma redução catastrófica da população das nações desenvolvidas e das nações em desenvolvimento através do “berço vazio” [10], isto é, da falta de bebês.

UMA VISÃO

Portanto, promovemos aqui uma nova visão e uma declaração fresca de princípios e metas compatíveis com o século XXI e com o terceiro milênio.

Vemos um mundo restaurado de acordo com a intenção de seu Criador. Antevemos uma cultura — tanto a nível local quanto geral — que sustenta o casamento de uma mulher com um homem, e de um homem com uma mulher, como aspiração principal para os jovens. Essa cultura confirma o casamento como o melhor caminho para a saúde, segurança, realização e alegria. Essa cultura coloca o lar edificado sobre a base do casamento como a origem da verdadeira soberania política, a fonte da democracia. Essa cultura sustenta a família edificada pelo casamento como a principal unidade econômica, um lugar marcado por abundantes e importantes atividades, abundância material e ampla dependência em si mesma. Essa cultura muito valoriza a propriedade privada nas mãos da família como a defesa da independência e da liberdade. Essa cultura celebra a união sexual conjugal como a única origem da nova vida humana. Vemos esses lares como lugares abertos para acolher muitos filhos, que são a fonte da continuidade da família e do crescimento social. Antevemos moças amadurecendo e se tornando esposas, donas de casa e mães; e vemos os rapazes madurecendo e se tornando maridos, edificadores do lar e pais.

Vemos que a verdadeira felicidade é resultado de pessoas totalmente ligadas em relações vitais com cônjuges, filhos, pais e parentes. Olhamos para um cenário da família em que o lar, seu quintal e jardim estão cheios de atividade, com tarefas de utilidade e com os sons de riso de muitas crianças. Antevemos os pais como os primeiros educadores de seus filhos. Vemos lares que também abraçam os parentes de perto e de longe que precisam de cuidados especiais devido à idade ou enfermidade. Vemos vizinhanças, vilas e cidades como o segundo lugar de soberania política. Vemos uma liberdade de comércio que respeita e serve a integridade da família. E olhamos para os governos e nações que sustentam a proteção da família natural como sua responsabilidade prioritária.

NOSSOS PRINCÍPIOS

Para promover essa visão, nós que defendemos a família natural declaramos princípios claros para guiar nosso trabalho no novo século e milênio.

Afirmamos que a família natural, não o indivíduo, é a unidade fundamental da sociedade.

Afirmamos que a família natural é a união de um homem e uma mulher através do casamento para partilhar amor e alegria, gerar filhos, suprir sua educação moral, construir uma base doméstica vital de produção e consumo, oferecer segurança em tempos de dificuldade e unir as gerações.

Afirmamos que a família natural é o aspecto fixo da ordem criada, completamente impregnado na natureza humana. Os sistemas distintos de família podem se enfraquecer ou se fortalecer. Mas não se pode mudar a família natural dando-lhe uma nova forma, e nem mesmo os ardorosos engenheiros sociais podem redefini-la.

Afirmamos que a família natural é o sistema de família ideal, verdadeiro e o melhor. Embora reconheçamos que circunstâncias ou transtornos provoquem diferentes situações no modo de vida das pessoas, todas as outras “formas de família” são incompletas e são falsificações do Estado.

Afirmamos que a união conjugal é a união sexual autêntica, a única união aberta para criar de forma natural e responsável uma nova vida.

Afirmamos a santidade da vida humana, desde a concepção até a morte natural; cada pessoa recentemente concebida tem o direito de viver, se desenvolver, nascer e fazer parte de um lar com seus pais naturais unidos pelo casamento.

Afirmamos que a família natural existe antes que o Estado viesse a existir e que os governos legítimos existem para abrigar e encorajar a família natural.

Afirmamos que o mundo tem abundância de recursos. O colapso da família natural e a ruína moral e política, não o “excesso” de população humana, são as causas da pobreza, fome e deterioração ambiental.

Afirmamos que a diminuição acelerada da população humana é um real perigo demográfico que o mundo do século XXI enfrentará. Nossas sociedades precisam de mais pessoas, não menos.

Afirmamos que as mulheres e os homens são iguais em dignidade e direitos humanos inatos, mas diferentes em função. Ainda que às vezes frustrado por acontecimentos além do controle do indivíduo (ou às vezes renunciado em favor de uma vocação religiosa), o chamado de cada menino é se tornar marido e pai; o chamado de cada menina é se tornar esposa e mãe. A aptidão do homem para o papel de pai influencia tudo o que ele faz. A aptidão da mulher para o papel de mãe influencia tudo o que ela faz [11]. A cultura, a lei e as ações políticas devem levar essas diferenças em consideração.

Afirmamos que a complementaridade dos sexos é fonte de força. Os homens e as mulheres exibem profundas diferenças biológicas e psicológicas. Na união do casamento, porém, o todo se torna maior do que a soma das partes.

Afirmamos que o determinismo econômico é falso. Idéias e uma fé religiosa podem prevalecer sobre as forças materiais. Embora possa ser muito poderosa, pode-se domar a industrialização exercitando-se a vontade humana.

Afirmamos a validade do ideal do “salário-família” de “pagamento igual para igual responsabilidade da família”. As recompensas trabalhistas e o sistema de impostos devem fortalecer mais a união da família natural.

Afirmamos o papel necessário da propriedade privada — em questões envolvendo terra, moradia e capital produtivo — como o alicerce da independência da família e responsável pela democracia. Numa sociedade justa e boa, todas as famílias terão real propriedade.

E afirmamos que as soluções permanentes dos problemas humanos se originam das famílias e pequenas comunidades. Não se pode impor essas soluções por decretos burocráticos e judiciais, nem se pode forçá-las mediante forças externas.

NOSSA PLATAFORMA

Desses princípios, traçamos uma plataforma simples e concreta para o novo século e milênio. Ao mundo, dizemos:

Onde os outros pretendem destruir o casamento com sua redefinição do casamento, nós construiremos numa nova cultura de casamento.

Onde os outros continuam sua guerra contra a fertilidade humana, receberemos de braços abertos e celebraremos a chegada de mais bebês e famílias maiores.

Onde os outros querem dividir ainda mais os pais de seus filhos, encontraremos novas maneiras de trazer mães, pais e filhos de volta ao lar.

Onde os outros querem sujeitar as famílias ao total controle do governo e vastas corporações, criaremos verdadeiros sistemas de produção e consumo domésticos.

Para fazer essas coisas, precisamos oferecer incentivos explícitos, e precisamos também corrigir as políticas erradas do passado. Especificamente:

Para construir uma nova cultura de casamento…

Trabalharemos uma educação escolar que dê imagens positivas da castidade, casamento, fidelidade, o papel da mãe e do pai, e o papel, trabalho, ocupação e função específica de marido e esposa.

Acabaremos com a corrupção moral que os programas de “educação sexual” do governo causam nas crianças.

Elaboraremos medidas constitucionais e legais para proteger o casamento como a união de um homem e uma mulher. Acabaremos com a guerra dos hedonistas sexuais contra o casamento.

Transformaremos os programas de seguro social, bem-estar social e moradia para fortalecer mais o casamento, principalmente o casamento de adultos jovens. Acabaremos com os incentivos do governo para que as pessoas vivam fora do casamento.

Colocaremos o peso da lei a favor dos cônjuges que buscam defender seu casamento. Acabaremos com as preferências do governo em favor do divórcio fácil, revogando as leis liberais.

Reconheceremos o casamento como uma verdadeira e plena parceria econômica. Acabaremos com as leis que impõem pesados impostos sobre os que estão casados.

Permitiremos que as companhias particulares de seguro reconheçam as vantagens de saúde do casamento e da vida em família, de acordo com os princípios econômicos bons. Acabaremos com a discriminação legal contra os que são casados e contra as famílias que têm muitos filhos.

Daremos mais autoridade aos que têm a responsabilidade legal e cultural de proteger o casamento e a moralidade pública. Acabaremos com a tendência de palavras e atitudes rudes de nossa cultura.

Para receber de braços abertos mais bebês dentro do casamento…

Elogiaremos as igrejas e outros grupos que suprem modelos férteis e saudáveis de vida de família aos jovens. Acabaremos com os programas do governo que fazem lavagem cerebral nas crianças, jovens e adultos, doutrinando-os para absorver a mentalidade contraceptiva.

Restauraremos o respeito à vida. Acabaremos com a cultura do aborto e a matança em massa dos inocentes.

Criaremos campanhas particulares e públicas para reduzir a mortalidade materna e infantil e para melhorar a saúde da família. Acabaremos com as campanhas governamentais de redução da população.

Estabeleceremos medidas especiais de proteção para as famílias, para o papel das mães e para a infância. Acabaremos com os ataques terríveis contra esses direitos humanos fundamentais.

Celebraremos maridos e esposas que mantêm sua vida sexual aberta a mais filhos. Acabaremos com a manipulação e abuso da vida humana nova nos laboratórios.

Trabalharemos para criar generosas deduções do imposto de renda, isenções e créditos que beneficiem o casamento e o número de filhos. Acabaremos com a opressiva cobrança de impostos sobre a renda familiar, o trabalho, a propriedade e os bens.

Criaremos créditos contra os impostos sobre a folha de pagamento, créditos que recompensem o nascimento de bebês e que construam verdadeiros patrimônios de família. Acabaremos com os incentivos de seguro existentes que favorecem os casais que escolhem não ter filhos.

Ofereceremos benefícios de impostos para negócios que fornecem “presentes para ocasiões de nascimento” e “licença-maternidade” para seus empregados. Acabaremos com os incentivos legais que encorajam as corporações de negócios a ignorar as famílias.

Para trazer as mães, e os pais, ao lar…

Asseguraremos que as mães que permanecem no lar gozem ao menos os mesmos benefícios do governo oferecidos às mulheres que utilizam creches. Acabaremos com a discriminação contra as mães que permanecem no lar.

Incentivaremos novas estratégias e tecnologias que permitam que empregos no lar floresçam e prosperem. Acabaremos com as políticas que injustamente favorecem negócios e instituições grandes e centralizadas.

Favoreceremos a pequena propriedade que reintegre lar e trabalho. Acabaremos com os impostos, os incentivos financeiros, os subsídios e as leis de zoneamento que desencorajam as pequenas fazendas e os negócios mantidos por famílias.

Para criar um verdadeiro sistema de produção e consumo doméstico…

Permitiremos que homens e mulheres vivam em harmonia com sua verdadeira natureza. Acabaremos com a promoção governamental agressiva da androginia [mistura das características do homem e da mulher].

Incentivaremos os empregadores a pagar um “salário-família” para chefes de família. Acabaremos com as leis que proíbem os empregadores de reconhecer e recompensar as responsabilidades de família.

Elaboraremos leis que protegem de toda interferência do governo as escolas em casa e outras escolas centralizadas na família. Daremos o controle real das escolas públicas às pequenas comunidades de modo que o foco delas se dirija para o lar e para a família. E criaremos medidas (tais como créditos de imposto na área da educação) que reconheçam o exercício das responsabilidades dos pais.

Acabaremos com as políticas e impostos discriminatórios que favorecem a educação estatal dos jovens.

Defenderemos a superioridade dos direitos dos pais e responsabilizaremos as autoridades públicas por abusos de sua autoridade. Acabaremos com o abuso das leis contra o “abuso infantil”.

Incentivaremos a auto-suficiência mediante ampla posse de propriedade, empresas domésticas, hortas domésticas e fábricas domésticas. Acabaremos com a cultura de dependência promovida pelos programas assistenciais do governo.

Celebraremos lares que sejam centros de atividades úteis. Acabaremos com os incentivos para a construção de lares que adotem, e assim criem, famílias sem funções.

NOSSA LIBERDADE

Mediante essas tarefas, buscamos promover a verdadeira liberdade. Os partidários de um mundo “pós-moderno” ensinam que a liberdade significa ser livre da tradição, da fé religiosa, da família e da comunidade. Eles também sustentam que a liberdade é um presente que o governo nos dá. Não aceitamos essas declarações. Em vez disso, a verdadeira liberdade se origina da capacidade de os seres humanos, mulheres e homens, encontrarem seu real destino, em sua capacidade de viver em harmonia com o mundo criado. A liberdade real está em tomar posse da capacidade de se ocupar com “a busca da felicidade”, que os fundadores dos Estados Unidos bem entenderam com o significado de “felicidade doméstica”, as alegrias do casamento e da vida no lar [12]. A verdadeira liberdade tem como base o direito de a família possuir uma propriedade real e produtiva. A liberdade política inclui ser livre dos modernos engenheiros sociais, que querem criar sua própria ordem artificial com base na classe social, ou no racismo, ou na violência da androginia (a negação da mulher e do homem). Na verdade, os seres humanos foram feitos para serem conjugais, para viverem em lares com conexões vitais a pais, cônjuge e filhos. A liberdade autêntica só entra na família natural e só vem através da família natural.

AS ACUSAÇÕES DE SEMPRE

Sabemos que certas acusações serão apontadas contra nós. Alguns dirão que queremos voltar no tempo, para restaurar o mundo suburbano americano lendário da década de 1950. Outros acusarão que buscamos subverter os direitos das mulheres ou que queremos impor valores brancos, ocidentais e cristãos num mundo pluralístico. Outros ainda argumentarão que ignoramos a ciência e reforçamos a violência patriarcal. Alguns dirão que bloqueamos a evolução social inevitável ou ameaçamos um mundo sustentável com um número grande demais de filhos.

Por isso, antecipadamente, vamos deixar claro:

Nós esperamos, em expectação, enquanto aprendemos com o passado.

É verdade que vemos com carinho as épocas passadas da família, como é o caso dos “EUA de 1950. Aliás, pela primeira vez em cem anos, aconteceram simultaneamente cinco coisas nos EUA (e na Austrália e em partes da Europa Ocidental também) durante esse período: o índice de casamento subiu; o índice de divórcio caiu; a fertilidade conjugal subiu nas alturas; a igualdade das famílias aumentou; e aumentaram as medidas para o bem-estar das crianças e felicidade dos adultos. Essas foram as realizações sociais daquela grande geração. Olhamos com alegria esse passado da família e aspiramos recriar tais resultados.

No entanto, sabemos também que esse progresso específico foi a maravilha de uma geração. Não durou. Algumas pessoas que nasceram naquela geração se rebelaram. Muitas vezes, essa rebelião foi tola e destrutiva. Além disso, encontramos fraquezas no modelo de família dos EUA em 1950. Mas em grande parte esse modelo estava confinado à maioria branca. Nesse período, as famílias negras realmente mostravam crises cada vez maiores: menos homens e mulheres casando; mais bebês nascendo fora do casamento [13]. Além do mais, esse novo modelo suburbano — caracterizando longas idas e voltas diárias ao trabalho e residências sem parques e lojas próximas onde mães e jovens poderiam encontrar saudáveis laços de comunidade — demonstrou ser incompleto. Finalmente, vemos o ideal de “casamento de companheirismo” dessa época, que adotou uma missão psicológica — excluindo as funções materiais e religiosas como frágeis. Podemos, e faremos, melhor.

Cremos com todo o coração nos direitos das mulheres.

Acima de tudo, cremos nos direitos que reconhecem os dons exclusivos que as mulheres têm: gravidez, parto e amamentação. A meta da androginia, que é uma campanha para eliminar as diferenças reais entre mulheres e homens, comete igualmente tanta violência contra a natureza humana e os direitos humanos quanto os esforços dos comunistas para criar o “Homem Soviético” e dos nazistas para criar o “Homem Ariano”. Rejeitamos toda engenharia e tentativa social de corromper meninas e meninos, de confundir mulheres e homens sobre sua verdadeira identidade. Ao mesmo tempo, nada em nossa plataforma impediria as mulheres de buscar e obter tanta educação quanto elas querem. Nada em nossa plataforma impediria as mulheres de entrar em empregos e profissões às quais elas aspiram. Contudo, nos opomos às medidas que restringem a liberdade de os empregadores reconhecerem as relações e obrigações de família e assim retribuir indiretamente as mães que permanecem no lar para cuidar dos filhos. E nos opomos aos atuais ataques contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento que proclama direitos fundamentais para a autonomia da família, para um salário-família aos pais e para a proteção especial das mães. [14]

Cremos que a família natural é universal, um atributo de toda a humanidade.

Confessamos crer nos valores cristãos com relação à família: a santidade do casamento; o desejo do Criador de que sejamos férteis e nos multipliquemos; o milagre de Jesus na festa de casamento; a exortação de Jesus contra o adultério e o divórcio. Mas encontramos opiniões semelhantes nas outras grandes religiões mundiais. Além disso, encontramos o reconhecimento do que é a família natural até mesmo nos rituais de casamento dos animistas. Pelo fato de que está marcada em nossa natureza como seres humanos, sabemos que é possível entender o que é a família natural, contanto que abramos a mente para as provas de nosso sentido e o coração para as sugestões de nossos melhores instintos. De modo semelhante, no século XXI, há pouca coisa que seja “ocidental” acerca de nossas opiniões. As vozes da opinião “pós-família” estão vindo dos que pretendem ser os modernos imperialistas ocidentais. São eles que em grande parte estão governando nos países idosos, moribundos e sem crianças do Ocidente Europeu. São eles que buscam envenenar o resto do mundo com uma amarga e seca cultura da morte. Nossos melhores amigos estão realmente nos países em desenvolvimento, no Terceiro Mundo, no Oriente Médio, na África, no Sul da Ásia e na América do Sul. Nossos aliados mais firmes tendem a ser não brancos, mas em vez disso pessoas de cor. Os imperialistas ocidentais de hoje almejam uma escuridão em que todos em todos os lugares não tenham filhos. Nós almejamos libertar o mundo inteiro — inclusive a agonizante Europa — para a luz, para a vida e para as crianças.

Celebramos as descobertas da ciência empírica.

A ciência, quando feita e relatada com honestidade, é amiga da família natural. A evidência é clara a partir de décadas de trabalhos de sociologia, psicologia, antropologia, sóciobiologia, medicina e história social: as crianças se desenvolvem melhor quando nascem no casamento e são criadas por seus pais naturais. Em qualquer outro ambiente — inclusive mães ou pais solteiros, padrastos, homossexuais, amigados ou residências comunais — as crianças, como é de esperar, se desenvolvem pior. Os lares em que os pais são naturais e casados trazem riquezas, conhecimento e sucesso para as crianças criadas em seu ambiente. A ciência mostra que esses mesmos lares dão vida, riqueza e alegria para esposas e maridos também. Doença, depressão e morte prematura chegam aos que rejeitam a vida de família [15]. Essa conseqüência de fato não deve causar surpresa. A ciência, afinal, é o estudo da ordem natural. E embora o Criador perdoe, a natureza jamais.

Almejamos reduzir a violência doméstica.

Todas as famílias são imperfeitas e algumas famílias fracassam. Nós também nos preocupamos com a violência doméstica. Sabemos que as pessoas poderão fazer escolhas ruins, que elas poderão cair vítimas do egoísmo e seus instintos mais escuros. Sabemos também que as pessoas poderão viver em lugares ou momentos em que há poucos modelos de lares sólidos, poucos exemplos de casamentos bons. Apesar disso, também insistimos em que a família natural não é a fonte desses fracassos humanos. As pesquisas nesse sentido são claras. As mulheres têm a maior proteção física quando estão casadas e vivendo com seus maridos. As crianças têm a melhor proteção contra o abuso sexual, físico e emocional quando vivem com seus pais naturais casados. Em resumo, a família natural é a resposta para o problema do abuso. Sabemos também que todos os maridos e esposas, todas as mães e pais, precisam ser ensinados e incentivados em seus papéis devidos. Essa é a obrigação prioritária de todas as instituições sociais dignas.

Cremos que embora os sistemas distintos de família mudem, o propósito da família natural nunca muda.

Com relação à família natural, não aceitamos nenhuma coisa tal como a evolução social. As mudanças que vemos são deterioração do único modelo verdadeiro de família ou são renovação que promovem esse modelo. De nossa própria origem como criatura sem igual na terra, nós seres humanos fomos marcados pela união de longa duração entre um homem e uma mulher, pelos recursos que eles repartiram, pela divisão complementar de trabalho e por uma atenção prioritária à procriação, proteção e educação de filhos em lares estáveis. A História é cheia de exemplos de sistemas distintos de família que se fortaleceram e construíram grandes civilizações, só para caírem em atomismo, vício e decadência. Até mesmo em nossa civilização ocidental, podemos identificar períodos de declínio e desordem da família, e em seguida movimentos de renovação. É verdade que os últimos quarenta anos foram um período de grande confusão e decadência. Agora sentimos um novo chamado ao renascimento social.

Almejamos um futuro humano sustentável.

Com tristeza, reconhecemos que o novo impulso dos maltusianos obteve um elevado grau de sucesso em sua guerra contra as crianças. A fertilidade está caindo ao redor do mundo. A maioria das nações já caiu na “armadilha do envelhecimento” por causa da diminuição de suas populações. Se a situação atual não mudar, o futuro que se pode prever é o de uma catastrófica redução da população, contração da economia e tragédia humana. Nossa proposta realmente representa a melhor esperança da terra para um futuro sustentável.

NOSSOS ALIADOS

De que modo ligamos nossos movimentos e campanhas para proteger a família? O movimento político e intelectual conservador nos EUA, por exemplo, tem sustentado em décadas recentes uma filosofia de “combinação”: conservadores econômicos que crêem no capitalismo de mercado “combinado” aos conservadores sociais que têm como foco as questões de “vida” e “família”, ou “valores tradicionais”. Às vezes, essa abordagem de combinação funcionou bem politicamente. E mostrou reais resultados econômicos naqueles negócios de família que com sucesso equilibram a busca de ganhos e a integridade de lares (inclusive os lares de seus empregados).

Entretanto, também vemos que os interesses dos “grandes negócios” e das famílias não são sempre compatíveis. Quando não são guiadas por outros ideais, por exemplo, as grandes corporações buscam mão de obra barata onde quer que se possa achar e buscam acabar com todas as produções do lar, desde a preparação de roupas e refeições até a assistência à infância. Nas propagandas das empresas, geralmente o estimulo dos apetites é colocado na frente da integridade das famílias. Como mostra hoje a “globalização”, as famílias não são imunes à “destruição criativa” do capitalismo.

Admiramos e apoiamos os mercados verdadeiramente livres e o comércio honesto. Elogiamos as empresas que mantêm seu interesse de longo alcance em lares fortes e que elaboram anúncios comerciais com excelentes imagens da família. Mas acusamos também os privilégios legais e benefícios especiais concedidos às grandes corporações que compram acesso e poder político em detrimento das famílias. Além disso, apontamos para um dilema inerente na economia capitalista: os interesses de curto prazo de corporações individuais em lares fracos (lugares que se ocupam principalmente com o consumo, em vez de responsabilidades produtivas) e ocupações de trabalho para todos no mercado de trabalho (para mães e pais ao mesmo tempo) em vez do interesse de longo prazo das economias nacionais na melhoria do capital humano. Melhoria do capital humano significa jovens adultos felizes, saudáveis, inteligentes e produtivos, “produtos” que não se pode moldar através de creches, sem mencionar lares sem filhos. O “conservadorismo de combinação” tende a cobrir tais inerentes tensões. Colocamos as famílias em primeiro lugar. Vemos toda economia e todos os seus componentes — dos mercados financeiros, as regras do comércio ao ajuste de salários — como servos da família natural, e não o contrário.

Afirmamos também uma aliança com os movimentos “pró-família” e “pró-vida” de décadas recentes. Aliás, poderíamos ser chamados (de forma humilde) como parte desses movimentos. Mas também vemos (e assim reconhecemos) fraquezas que danificaram sua eficiência. Muitas vezes, as ambições e brigas individuais impediram o sucesso desses movimentos. Uma visão estreita às vezes levou a um foco em questões insignificantes, enquanto as batalhas verdadeiramente importantes foram ignoradas e assim perdidas à revelia. Pensamentos estratégicos e medidas corajosas que poderiam transformar debates chaves foram desfeitos pela timidez por parte de líderes e financiadores. Em vez de se encorajar fatores rápidos e eficientes, o que é comum é sustentar grandes instituições.

Dinheiro, particularmente dinheiro que vem de apelos de boletins enviados pelo correio, se tornou o centro de tudo. Diferenças doutrinárias e extremistas em questões importantes, mas irrelevantes, tiveram chance de obscurecer a unidade em questões centrais da família e vida. Nossos inimigos celebravam enquanto velhos temores e suspeitas entre grupos religiosos triunfavam sobre novas alianças potencialmente poderosas. Na maioria das questões, a iniciativa foi deixada para os inimigos.

Neste momento, insistimos na integridade “pró-família”. Nossos verdadeiros aliados aceitarão não apenas pequenas partes, mas a justificativa inteira para defender a família natural. Não se pode defender a família natural e ao mesmo tempo defender o divórcio em série ou as creches. Nossos verdadeiros aliados serão aqueles que, até onde for possível, alinham suas próprias vidas de acordo com a ordem criada.

Cremos também que a vitória da família natural virá somente quando mudarmos os termos do debate e nos abrirmos para novas coalizões. Não é suficiente impedir o reconhecimento público do “casamento gay”, nem se opor à “educação de sexo seguro” nas escolas públicas, nem proibir o aborto de nascimento parcial, nem criar casamentos de “pacto” opcionais. Esses ganhos não terão nenhum efeito duradouro, a não ser que a família natural seja liberta da opressão dos ideólogos pós-família, a não ser que construamos uma ampla cultura de casamento e família.

NOSSA ESPERANÇA

Essa grande responsabilidade requer novas maneiras de pensar e agir. Nossa visão do lar olha para frente, não para o passado, em busca de esperança e propósito. Vemos o lar cheio de vida renascido através de impressionantes movimentos novos, tais como o homeschooling (movimento de educação escolar em casa). Estamos maravilhados com as invenções recentes que anunciam novas uniões entre o lar e o trabalho. Sentimo-nos inspirados por uma convergência da verdade religiosa com a evidência da ciência nas questões do papel vital da família natural. Vemos a chance de uma grande aliança civil dos conservadores religiosos, dentro das nações e ao redor do mundo; isso não significa fazer concessões em doutrinas muito estimadas, mas defender nossos sistemas de família contra o inimigo comum. Admirados, descobrimos uma felicidade em comum com pessoas de quem no passado desconfiávamos ou temíamos. Gozamos novas amizades enraizadas em ideais da família que cruzam antigos pontos de divisão. Vemos a oportunidade de termos uma ordem mundial abundante construída na base da família natural.

Fazemos uma chamada especial aos jovens, aos que nasceram nas últimas três décadas. Vocês são filhos de uma época conturbada, anos de desordem moral e social. Vocês foram concebidos e nasceram numa cultura de satisfação dos próprios prazeres, que abraça o aborto e a morte. Mais do que todas as gerações anteriores, vocês viram o divórcio de seus pais. Muitas vezes, vocês viveram em residências sem pais. Vocês foram ensinados a negar seus destinos como moças e rapazes. Nas escolas, vocês foram forçados a ler livros que zombam do casamento e do papel da mãe e do pai. As pessoas que deveriam ter protegido vocês — professores, juizes, autoridades públicas — muitas vezes deixaram vocês como presas à mercê de predadores morais e sexuais. Muitos de vocês são, aliás, vítimas de um tipo de estupro cultural: Vocês foram seduzidos e levados a praticar atos sexuais cedo na vida e depois foram pressionados a não ter filhos.

Contudo, vocês também são a geração que tem a capacidade de renovar o mundo. Nos pontos em que as pessoas da geração passada ajudaram a corromper o mundo, vocês serão os construtores. Vocês viram a escuridão. Agora a luz chama vocês. É a vez de vocês liderarem, com a família natural como sua insígnia e farol. Lancem para longe as mentiras que lhes foram ditas. Reivindiquem sua liberdade natural de criar casamentos verdadeiros e frutíferos. Aprendam com a renovação social estimulada pela geração da década de 1950 e aproveitem suas experiências como apoio especial. Vocês têm a chance de moldar um mundo que acolhe e celebra crianças. Vocês têm a capacidade de criar uma verdadeira volta ao lar. Sua geração segura nas mãos o destino da humanidade. As esperanças de todas as pessoas boas e decentes estão com vocês.

A CHAMADA

Uma nova tendência está se espalhando no mundo. A essência dessa tendência é a família natural. Convocamos todas as pessoas de boa vontade, cujos corações estão abertos para os estímulos dessa tendência, a se juntarem numa grande campanha. A família natural vem sofrendo muita perseguição, porém aproxima-se o tempo em que a guerra contra as crianças e as agressões à natureza humana acabarão.

Os inimigos da família natural estão cada vez mais preocupados. Há não muito tempo, eles achavam que seu triunfo havia sido completo, mas essa certeza não mais existe. A fúria deles está aumentando. E também estão aumentando suas tentativas, cada vez mais desesperadas, de usar a força. Mas seus erros também estão aumentando. Eles não sabem entender direito a natureza humana. Eles não sabem interpretar corretamente os sinais dos tempos.

Fomos chamados para ser agentes de mudança, não soldados morais, na iniciativa de tornar realidade a vida que nosso Criador ordenou para nós. Nossos inimigos estão morrendo, pela própria escolha deles; temos um mundo para ganhar. Famílias naturais de todas as raças, nações e credos, vamos nos unir.

Copyright 2005 Centro Howard para a Família, Religião & Sociedade e Instituto Sutherland. Traduzido do original em inglês The Natural Family: A Manifesto. Traduzido e adaptado, com a devida permissão, por Julio Severo. Proibida a reprodução parcial ou total deste artigo sem a permissão dos autores originais.

Disponível no Brasil com exclusividade por: www.juliosevero.com.br

Notas Finais:

[1] Theodore Roosevelt, Presidential Addresses and State Papers of Theodore Roosevelt. Part Two (New York: P.F. Collier & Son, [1904]): 493.

[2] Francis Fukuyama, The Great Disruption: Human Nature and the Reconstruction of Social Order (New York: Free Press, 1999).

[3] Karl Polanyi, The Great Transformation (New York: Rinehart & Company, 1944).

[4] John C. Caldwell, Theory of Fertility Decline (London & New York: Academic Press, 1982): 324.

[5] For example: Thomas Hobbes, De Cive: The English Version [1642] (Oxford: Clarendon Press, 1983): 42-48, 122-24.

[6] As example: Jean Jacques Rousseau, The Social Contract [1762] (New York: E.P. Dutton, 1950).

[7] Louis deBonald, On Divorce [1801], trans. and edited by Nicholas Davidson (New Brunswick, NJ: Transaction, 1992).

[8] Edmund Burke, Reflections on the Revolution in France (London: J. Dodsley, 1790).

[9] G.K. Chesterton, What’s Wrong With the World [1910] and The Superstition of Divorce [1920]; in Collected Works. Volume IV (San Francisco: Ignatius Press, 1987): 67, 256.

[10] Phillip Longman, The Empty Cradle: How Falling Birthrates Threaten World Prosperity and What to Do About It (New York: Basic Books, 2004).

[11] Phrases borrowed from David Schindler, The John Paul II Institute, Washington, DC.

[12] Jan Lewis, The Pursuit of Happiness: Family and Values in Jefferson’s Virginia (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1985); and Barry Alan Shain, The Myth of American Individualism: The Protestant Origins of American Political Thought (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1996).

[13] Daniel Patrick Moynihan, The Negro Family: The Case for National Action [1965]; in Lee Rainwater and William L. Yancey, eds., The Moynihan Report and The Politics of Controversy (Cambridge, MA: M.I.T. Press, 1967).

[14] The Universal Declaration of Human Rights (Adopted and Proclaimed by the General Assembly of The United Nations, 10 December 1948): Articles 16(3), 25(1 and 2), 26.

[15] See the research abstracts available through “New Research” at SwanSearch (www.profam.org); also, the Family and Society Database at www.heritage.org. xvi C. Owen Lovejoy, “The Origin of Man,” Science 211 (Jan. 23, 1981): 348. xvii Carle C. Zimmerman, Family and Civilization (New York & London: Harper & Brothers, 1947).

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