“Nem todos precisam da escola”, diz jovem que criou programa para autodidatas
Ele chocou a família ao deixar a escola aos 12 anos de idade. Agora, quer reunir talentos no Vale do Silício e ajudá-los a aprender por conta própria
Renata
Honorato
Com apenas 12 anos, Dale J.
Stephens chocou os pais certo dia, ao informá-los que deixaria os estudos.
"Decidi abandonar a escola porque queria começar a aprender", lembra
o americano, nascido na região californiana de São Francisco. Passado o susto,
ele recebeu apoio dos familiares e iniciou uma jornada sem volta —
especialmente aos bancos escolares, exceto por uma breve passagem universitária
que não durou um semestre. Hoje, aos 21 anos, ele é um autodidata convicto,
além de um entusiasta da causa. Apoiado na convicção de quem aprende por si só
vai mais longe, lançou um livro, Hacking Your Education (algo como
"Hackeando sua educação"), e fundou o UnCollege (que, com o
prefixo inglês "un", ostenta a própria negação da escola), site
dedicado a pesquisar a autoaprendizagem. Stephens encontrou ainda uma forma
inusitada de testar o conceito. A partir de setembro, o UnCollege promoverá um
programa chamado Gap Year, que reunirá dez jovens com idades entre 18 e 28 anos
em um intensivão sobre como aprender por conta própria. Ao longo de doze meses,
eles dividirão o mesmo teto em São Francisco, farão um intercâmbio a outros
países, terão de desenvolver um projeto inovador em qualquer área e ao fim
serão enviados para o Vale do Silício, centro de inovação americana, para
cumprir um estágio. O objetivo do programa é um só: colocar os participantes em
condições de aprender a aprender. Apesar da fé no autoaprendizado, Stephens
reconhece que a modalidade não é indicada a qualquer um. "Acredito que
todo mundo é capaz de aprender de forma independente, mas sei que nem todos
conseguem fazer isso." Às vésperas de chegar ao Brasil, onde participa na
próxima semana da edição da Campus Party em Recife, ele conversou com o site de
VEJA sobre suas ideias e feitos. Confira os principais trechos a seguir:
Dale J. Stephens |
Como
sua família reagiu à sua decisão? Eles ficaram
chocados, mas acabaram me apoiando. Eles me deram a oportunidade de decidir por
mim mesmo.
Você
diz que não acredita no currículo escolar.
Na sua opinião, o que poderia ser feito para mudar o sistema educacional nos
Estados Unidos? A primeira coisa a fazer é mudar a noção de que todo mundo pode
aprender as mesmas coisas, no mesmo tempo e de forma linear.
O
mesmo vale para outros países? A maioria das
escolas se baseia no sistema educacional prussiano — frequência obrigatória,
formação específica para os professores, currículo unificado e testes
nacionais. Isso funciona bem para treinar pessoas para seguir uma direção, mas
nós não precisamos de trabalhadores em série.
Em
que a proposta do UnCollege difere da oferecida por universidades tradicionais?
Os benefícios em participar do programa Gap Year são inúmeros. Nosso currículo
único de autoaprendizado ensina técnicas de como aprender. Reunimos autodidatas
em uma mesma comunidade. Conectamos nossos seguidores a mentores que os guiam
em um processo de autoaprendizado.
Como
são selecionados os mentores? Os mentores do
programa são pessoas muito diferentes entre si. Fazem parte desse grupo desde
investidores até executivos da Fundação Gates, passando por empreendedores e
empresários listados pela Fortune. Escolhemos essas pessoas porque elas
acreditam no valor de aprender por conta e desenvolvem coisas interessantes.
Você
acredita que qualquer pessoa pode aprender sem ajuda da escola?
Eu acredito que todo mundo é capaz de aprender de forma independente, mas sei
que nem todos conseguem fazer isso. Defender essa premissa seria tão tolo
quanto dizer que todas as pessoas devem ir à escola.
Quais
são seus planos para o futuro? Vamos expandir
o UnCollege para outras cidades. Nova York e Chicago são as primeiras da lista.
Por
que decidiu escrever um livro? Escrevi um livro
para explicar de forma sucinta o que é autoaprendizado. Trata-se de um assunto
difícil. É muito importante para os jovens não se sentirem isolados e saber que
não estão sozinhos.
Você
voltaria a estudar em uma universidade em alguns anos?
De forma alguma.
Quem
são as suas inspirações? Eu me inspiro em
pessoas como John Holt e Alexander Sutherland Neill. Eles foram os
primeiros a disseminar essas ideias.
Você
tem planos de expandir o UnCollege para outros países?
Sim, com certeza. Por ora, estamos pensando em levar o projeto para Londres, na
Grã-Bretanha, e Berlim, na Alemanha.
Fonte:
Revista Veja
Divulgação:
www.juliosevero.com
Leitura
recomendada:
A volta do profeta Elias: o que a
unção de Elias representa para as famílias e para o mundo político nestes
últimos dias
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