Educação na estrada: conheça duas famílias que educaram os filhos enquanto percorriam o mundo
Marta Reis
RIO — Nada de carteiras, quadro negro ou matérias chatas. Na família Schürmann, a Teoria da Evolução de Darwin se aprende no próprio arquipélago de Galápagos, e as lições sobre geologia e geografia acontecem sob um vulcão, na Martinica. Foi dessa maneira que a matriarca da família, Heloísa Schürmann, escolheu educar os quatro filhos: viajando. Mas sem abrir mão das lições e das provas, ela garante. Apesar de brasileira, Heloísa optou por métodos americanos para ensinar os filhos, já que nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, a legislação permite a educação em casa, ou o Home Schooling, como o termo é mundialmente conhecido. (Relembre o caso dos meninos mineiros, cujos pais estão sendo processados por educar os filhos em casa).
Conhecida pela vida em alto mar, os Schürmann partiram do Brasil a bordo de um veleiro em 1984, quando os filhos Pierre, David e Wilhelm tinham 15, 10 e 7 anos, respectivamente. O mais velho continuou os estudos através de um programa especial do Colégio Anglo Americano, e os menores seguiram o método sob correspondência da Calvert School, dos Estados Unidos. A quarta filha, Kat, adotada em 95 aos três anos, também foi ensinada pela mãe.
— O material era enviado em um só pacote para todo o ano escolar. As instruções eram bem detalhadas, inclusive com a carga horária indicada para cada disciplina. Todo o mês, enviávamos as lições e os trabalhos feitos pelos meninos, e a cada seis meses, eles faziam uma prova mais ampla. A leitura de livros brasileiros era importante, já que as apostilas eram em inglês - conta Heloísa, que fez licenciatura em inglês, na New York of University.
Segundo Heloísa, cada oportunidade era motivo de aprendizado:
— A matemática era ensinada através de dados concretos da navegação, o câmbio através das moedas dos países que visitávamos, o comportamento das espécies marinhas com os pescadores locais, e por aí vai. Aprendi a usar a criatividade. Se faltava algum material, buscava outro similar ou ajuda nos outros veleiros - relembra ela - Quando ficávamos muito tempo em solo, eles freqüentavam a escola daquele país - emenda.
Legislação brasileira exige que as crianças estejam matriculadas na escola
Pela legislação brasileira, a educação recebida pelos filhos de Heloisa só seria reconhecida no país, caso eles tivessem matriculados em alguma escola.(Entenda melhor como funciona a legislação nesse caso)
— As crianças com idade escolar (leia-se dos 7 aos 14 anos) precisam estar vinculadas a uma escola. Mas isso não seria um empecilho para as viagens. Várias instituições oferecem ferramentas para fazer o acompanhamento pedagógico, pela internet ou por correspondência - esclarece o conselheiro da Câmara de Educação Básica, do MEC, Francisco Aparecido Cordão.
No mar ou na terra, o enredo é parecido
Roteiro semelhante tem a vida da família dos portugueses Sofia Salgado e Mica Costa-Grande. A jornalista e o fotógrafo deixaram Portugal quando Eloi e Sáskia tinham 6 e 4 anos, e Sofia alfabetizou os filhos através de livros didáticos cedidos pela ex-escola dos meninos, sem ter feito qualquer curso de preparação.
— Fui autodidata mesmo. Seguia as lições e fazíamos os exercícios. Não foi difícil. Nos outros anos, comprei os livros que a escola mandou e os seguia. Minhas maiores preocupações eram o português e a matemática. O resto, eles aprendiam durante as viagens - conta ela, que mantinha uma rotina. - De manhã, eles completavam os exercícios, e de tarde fazíamos passeios a museus, igrejas e monumentos históricos.
Veja fotos dos Schürmann e da família de Sofia durante suas viagens pelo mundo
A jornalista educou os filhos sozinha até onde pôde. Mas, em 2006, decidiu fixar residência em São Paulo para que eles pudessem freqüentar a escola.
— Resolvemos criar uma base aqui antes de completar a volta ao mundo, pelo menos até os meninos terminarem o ensino médio. Com 10 e 12 anos, a diferença de idade entre eles começou a pesar na hora de ensinar. E a minha habilidade enquanto educadora ficou um pouco a desejar. Acho importante que eles conheçam a estrutura escolar e a concorrência - completa ela, destacando que o Home Schooling também é permitido em Portugal.
Nos Schürmann, era preciso estudar cinco horas diariamente
Para o filho do meio da família Schürmann, David, hoje com 34 anos, a adaptação à nova rotina foi rápida:
— Sabíamos que seria diferentemente e realmente foi, mas nossa mãe nos preparou para isso. Eu e meu irmão adorávamos. Imagina não precisar colocar uniforme e ficar trancado dentro de uma sala de aula o dia todo - lembra o cineasta, que deixou o barco para fazer faculdade na Nova Zelândia e nos Estados Unidos.
David destaca que a disciplina do colégio era mantida em casa:
— Não era moleza, não. Estudávamos pelo menos cinco horas por dia - Conta ele.
Fonte: O Globo
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